A coisa mais importante em qualquer organização é saber como orientar o processo criado pelo sonho coletivo. Como vamos dar conta de tornar esse sonho realidade? Como vamos garantir a sobrevivência de nosso projeto tão decisivo para o futuro de nossa comunidade depois de alimentar tantas esperanças e de comprometer tantos recursos?
Essa reflexão nos remete à teia de medos, e, fora do alinhamento, a tendência é perdermos a visão. Sem capacidade de perceber a realidade em toda a sua abrangência, temos a sensação de estarmos entrando em um barco e abandonando o porto sem saber ao certo como enfrentar as tempestades imprevistas do percurso. Estamos diante de muitas perguntas sem respostas.
Como navegadores no tempo dos grandes descobrimentos, é fundamental sabermos que podemos contar com uma bússola, com uma tripulação bem capacitada para enfrentar os eventuais desafios e com os mantimentos de bordo. Então, o que irá acontecer dependerá apenas de nossa capacidade de lidar com o novo!
Existem alguns importantes aspectos da gestão de uma organização que, se descuidados, provocam efeitos a serem sentidos a longo prazo, abalando a sustentação da entidade quando começam a faltar recursos. Todos têm dificuldade de lidar com essa situação, pois gera desequilíbrio e stress aos participantes. Consequentemente, entramos em um ciclo vicioso que nos tira a visão e a capacidade de gerenciar.
Vamos procurar entender quão grande é o desafio de dirigir, coordenar, gerir, gerenciar ou administrar uma organização social que ainda está no modelo excludente:
1. É uma atividade contínua: Tal como um tubarão que nunca para de nadar, o gestor tem uma tarefa permanente. Sempre precisa estar “de olho”, atento, e é responsável pelo que ocorre. Todo dia, tem muitas coisas importantes para fazer, além de precisar resolver desentendimentos, dentre outras tarefas pouco prazerosas. Enfrenta um desgaste físico e emocional que lhe impede a visão da realidade.
2. É uma função dinâmica: Como uma bola de neve, os recursos vão crescendo e, com eles, a responsabilidade. É difícil haver um dia igual ao outro. Algumas vezes, tudo acontece ao mesmo tempo. A responsabilidade que isso representa é grande. Qualquer equívoco pode gerar complicações.
3. É uma tarefa difícil de os outros entenderem: Qualquer dúvida serve para que as pessoas venham a questionar ou ficar insatisfeitas. Facilmente, geram-se fofocas que destroem as possibilidades de sustentação de qualquer projeto.
No modelo autogestor temos outra realidade:
Pela simples postura de tornar o processo descentralizado, esta rotina cheia de imprevistos, desafios e surpresas se transforma no melhor e mais produtivo exercício.
Ao dar oportunidade a todos os participantes de desenvolver suas potencialidades e de aprender a gerenciar a si próprios, teremos o compromisso e o cuidado de todos pelo todo.
Com o conhecimento de si e do próximo, criamos um ambiente de paz e tranquilidade, favorecendo as condições necessárias para que todos estejam de bem com a vida, permaneçam atentos e evitem desastres e incompreensões.
Ao vivenciar a fase de transformação para o novo modelo, aprendemos a viver de maneira diferente, reconstruindo nossos conceitos e, em favor da qualidade de vida de todos, passamos a reconstruir nossa existência.
Ana Norões – Sócia fundadora da ORP Consultoria em autogestão e do Movimento Teia da Vida.